sábado, 26 de março de 2016



Um pouco mais sobre Imaginação Sociológica

Wright Mills, sociólogo, ficou conhecido principalmente pelo seu livro  ‘Imaginação Sociológica"publicado originalmente nos Estados Unidos em 1959. Nesse livro  tem por objetivo explicar a importância da sociologia, colocando está ciência como uma qualidade do espírito humano, que ajudaria a perceber o que está acorrendo no mundo e como nos situamos no mundo. Isso seria possível através do conceito de imaginação sociológica. Tal conceito ajudou muitos de seus alunos a se engajarem nos mais diversos movimentos sociais que emergiram no contexto agitado da Guerra do Vietnã, além de levarem a questionarem as razões para tal guerra.

Mills  aponta como um elemento-chave dessa imaginação sociológica a capacidade de poder visualizar a sociedade pelo lado de fora, em vez de fazê-lo apenas pelas perspectiva das experiências pessoais e das pré-concepções culturais. A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que parecem dizer respeito ao individuo, na verdade, refletem questões mais amplas. Nesse sentido, trata-se da capacidade de conectar situações da realidade, como os interesses em disputa, percebendo que a sociedade não se apresenta de determinada forma por acaso. Nada é natural, nada é por acaso.

Com essa perspectiva Mills  vai propor como possibilidade da sociologia permitir que o indivíduo relacione sua biografia com a realidade histórico-social, permitindo, assim, a conscientização do agente ao perceber pequenos pontos de cruzamento de sua biografia com a historia geral. E desta maneira perceber o que está acontecendo no mundo, e compreender o que acontece com eles. 

Nesse sentido cabe destacar que a imaginação sociologia  não consistiria simplesmente em aumentar o grau de informação dos indivíduos, e sim para poder perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos.

Podemos destacar três elementos fundamentais compõem a imaginação sociológica: a História, a biografia e a estrutura social. Para compreender a experiência individual e avaliar a si mesmo dentro de seu tempo, o indivíduo deve entender como a sociedade veio a ser o que é, como se dá o seu processo de mudança e como sua história está sendo feita.

“Para compreender as modificações de muitos ambientes pessoais, temos necessidade de olhar além deles. E o número e variedade dessas modificações estruturais aumentam à medida que as instituições dentro das quais vivemos se tornam mais gerais e mais complicadamente ligadas entre si. Ter consciência da ideia da estrutura social e utilizá-la com sensibilidade é ser capaz de identificar as ligações entre uma grande variedade de ambientes em pequena escala”.(p.17)



Exemplo: O desemprego

Em uma cidade de milhares de habitantes, somente um individuo está desempregado, isto é um problema pessoal desse individuo. E para entender este problema, talvez tenhamos que observar o caráter dessa pessoa, suas habilidades e suas oportunidades. Porém, quando temos 15 milhões de desempregados num país de 50 milhões de trabalhadores (ou seja, pessoas em idade produtiva, que podem exercer uma profissão), isso já não é um problema de caráter ou de habilidades, mas um problema público, que tem a ver com a estrutura e com um certo funcionamento da sociedade.